segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A importância da matemática na reconstrução da memória

Sem fazer ideia da cor da camisa, sem a noção de ter calçado sapatos ou sapatilhas, tendo por certo não ter saído de casa com um par de chinelos nos pés, nem me recordando da existência de algum casaco, que até pode ter existido nesta imagem distante, e havendo calças de ganga na história, encarei o número 2300, entrei no futuro, eram quase seis horas da tarde do dia oito de abril do ano de dois mil e dois.

Antes de ter entrado no futuro pousei um microfone azul na sala de reparação técnica da estação de rádio, olhei pela última vez para a prateleira dos gravadores marantz, gravadores muito grandes para quem só precisa de gravar sons numa cassete, gravadores com bolsa em couro preto e alça, entreguei um mini-disc cinzento sony, entreguei os disquinhos, abracei, fui abraçado, gravei na memória os últimos minutos, fui embora até qualquer dia.

Antes de ter entrado no futuro escolhi ter férias, escolhi sete dias, que insistimos em dizer que são oito, escolhi ir ao Sul, escolhi uma varanda branca, uma escarpa, as janelas em cima do atlântico. Numa das noites tive um copo de vodka nas mãos quando estava em pé na esplanada da discoteca de um senhor igual ao Toy (quem é o Toy?), tive vontade de ir dormir sobre o assunto (que assunto?), tive visitas do passado nos sonhos, era uma namorada antiga, tive vontade de ficar muitas horas na cama durante todos os dias e fiquei, convidei o passado para as refeições todas e ele veio, mas só para comer as migalhas de um homem ressesso. Demorou uma semana.

No fim das férias, o futuro tinha uma porta e um elevador para o segundo andar mais um microfone preto, mais uma máquina com olhos que nunca esquecem, mais mesas cinzentas e sofás azuis e computadores do tamanho de uma telenovela. O futuro era a soma de todas as partes e deu nisto.

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